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Os copos quebram e gente aprende

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Era um domingo qualquer, estávamos reunidos na casa da vovó Cris para o almoço em família. Após a Clara comer todo o seu "papá', servi a ela um copo de suco feito com laranjas colhidas por ela mesma, no pátio aqui de casa. Logo que entreguei o copo, foi tão rápido que nem percebi, um estrondo seco de vidro quebrando me surpreendeu. Por um descuido ou reflexo natural de uma criança de três anos, o copo escapou de sua mão e se partiu em pedaços no chão. Todos me olharam preocupados e antes que alguém falasse algo para assustar a única criança da mesa, eu dei conta de assumir a situação.

Ao olhar para a Clara e perceber que ela estava tranquila, porém curiosa, entendi que havia naquele momento uma grande oportunidade de aprendizado. O primeiro de tudo foi garantir que ela ficasse afastada dos cacos de vidro, em uma distância segura no alto da cadeira. Depois, tratei de limpar a sujeira com uma vassoura, pegando o vidro com cuidado e explicando, em tom tranquilo e claro, que em contato com a pele, aqueles pedacinhos de vidro poder fazer "dodói'' na gente. Com uma didática que inventei na hora, simulando um copo novamente caindo (sem deixar quebrar, é claro), expliquei que o vidro quando cai no chão, quebra. Portanto, temos que ter um maior cuidado quando estamos utilizando objetos de vidro. Frisei, também, que sempre que ocorrer isso, de um vidro se quebrar, chame um adulto para limpar e não encoste nos cacos. Por fim, revesti o vidro com jornal e papelão, mostrando a importância do descarte correto, para que o "tio'' da coleta de lixo não se machuque.

Essa resenha toda durou pouco mais de três minutos, tempo suficiente para manter a atenção da classe, principalmente da aluna mais especial que havia ali. Após a primeira parte da aula concluída, partimos para a lição final daquela manhã. No armário, eu peguei outro copo de vidro, para novamente servir o delicioso suco de laranja à minha filha. Antes que pudesse concluir o ato, fui repreendido pela voz de um adulto que disse: "Pega um copo de plástico para ela agora''. Sem nada responder, alcancei o copo de vidro com suco nas mãos da Clara, entregando também um olhar de confiança como quem diz: "Você já sabe o que fazer''. Ela segurou o copo com as duas mãos e, cuidadosamente, colocou em cima da mesa demonstrando que havia entendido a lição. Desde esse ocorrido, ela nunca mais quebrou nada de vidro aqui em casa e segue utilizando, naturalmente, esses objetos.

A minha inspiração para agir dessa maneira parte de uma premissa básica: as crianças são muito inteligentes, só precisamos transmitir confiança para que elas aprendam algo novo a cada dia. O mundo está cheio de perigos, eu sei. Justamente por isso que a melhor maneira de preparar os filhos para que enfrentem o mundo, é permitindo que eles experimentem os perigos com atenção, prudência e sabedoria.

É natural que todo pai e mãe, minimamente, responsável não deseja que o filho sofra, que se corte com um caco de vidro ou se magoe. Porém, não temos como transformar tudo em plástico na vida deles, para tentar amortecer as quedas e controlar os riscos. Ao fazermos isso, bem na verdade, vamos colaborar para que se tornem frágeis. Se expor para aprender é o melhor caminho, acredito. Também não acho que seja possível prever todos os perigos, mitigar todos os erros e tropeços que eles possam dar. Por vezes, o aprendizado virá com um corte ardente na ponta do dedo. Ou você, depois de adulto, nunca mais quebrou um copo de vidro?


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